terça-feira, outubro 07, 2014

PORQUE ODEIO NORDESTINO


De nordestino tenho trauma acumulado desde a mais tenra infância. O problema vem desde aquela época em que a gente ia feliz da vida prá escola de guarda-pó branco e caderninho debaixo do braço e acompanhada do sonho de um dia poder ler e escrever.

Naqueles tempos idos me disseram que um tal de Jorge Amado era um escritor baiano famoso e até hoje não consegui entender o porquê da reverência. Será porque ele escreveu dezenas de livros que retratam tão bem a história do povo nordestino do sertão e da cidade? Será porque das obras dele renderam adaptações de filmes de primeira linha, teatro e telas famosas? Será que odeio Jorge Amado porque as obras dele foram publicadas em 52 países?

Este pequeno exemplo já é motivo convincente para odiar o povo nordestino. Afinal de contas, porque a contribuição deles à literatura é tão expressiva e valorizada e a do sul não. Mas vou mais além.

Odeio nordestinos também por essa mania que eles tem em fazer música, dança, poesia admiradas no mundo inteiro. Se Strauss ficou famoso com suas valsas e Verdi com suas óperas, não menos valor tem os Doces Bárbaros, Djavan, Alceu Valença, Carlinhos Brown, Zé e Elba Ramalho e mais uma infinidade de gente nordestina talentosa.

Assistir um dia um show do Chico César fazendo embolada no violão ao som da 9ª Sinfonia de Beethowen e o Luar do Sertão do Gonzagão é um verdadeiro deleite aos ouvidos.

Tem também o Baryshnikov. O russo coleciona méritos de sobra na dança. Mas, cá entre nós, quem consegue harmonizar os passos frenéticos do frevo e do maracatu não fica nem um pouco atrás do talentoso bailarino. E é só o nordestino capaz de conseguir a façanha.

Odeio o cearense Patativa do Assaré. Na sua sabedoria popular, ele já imaginava que

“a baixa, o sertão e a serra,

Devia sê coisa nossa;

Quem não trabalha na roça,

Que diabo é que quer com a terra?”

Quer mais motivos para odiar o Assaré?

O nordestino também tem a mania de fazer comida boa. Odeio esse povo que sabe fazer acarajé, tapioca, vatapá e moqueca como ninguém. A culinária deles é tão gostosa, que até político experimenta buchada de bode para se fazer popular.

Minha ira vai mais além. Além do povo carimbado de nordestino, ainda tem aqueles quilômetros de praias de areia fofa rodeadas de coqueiros. Lá, o azul do céu se confunde com as águas mornas do mar também azul, prontas pra receber gente do mundo inteiro para um doce mergulho num velho calção de banho, um dia prá vadiar.

Esse é o nordeste. Mesmo odiado, seu povo tem no coração a grandeza do sorriso franco e a alma acolhedora.

Jamais. As riquezas culturais acumuladas na história do povo nordestino jamais serão destruídas pelo preconceito, desamor, nem pela ignorância de gente impiedosa.

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