quinta-feira, maio 29, 2014

O ontem e o hoje. E o amanhã?

Cinquentões de hoje tem viva na lembrança as muitas manifestações populares ocorridas na década de noventa, ápice do governo neoliberal FHC.

E não eram poucas. Trabalhadores do Brasil inteiro se organizavam, discutiam pautas e saiam às ruas cientes da legitimidade das reivindicações, dos direitos defendidos e das bandeiras de luta.

Nas datas-bases, sindicatos travavam batalhas setorizadas por melhores salários, condições de trabalho e benefícios sociais.

Por contrariedade aos rumos da política vigente, uma massa crítica cada vez maior saia às ruas a clamar por mudanças.

Os movimentos organizados tinham a consciência de que a estabilidade econômica era salutar para o país. Porém, não aceitavam a ideia de que a tal estabilidade fosse concebida à custa da exploração da classe trabalhadora. O povo estava cansado de sofrer, de esperar o bolo crescer para só depois vê-lo repartir.

Nas ruas, gente desempregada se revoltava com a venda do patrimônio público a preço de banana à iniciativa privada. Uma onda de privatizações tomou conta do país numa obediência cega ao Consenso de Washington.

O grito pela Reforma Agrária saia do campo e invadia cidades. Era preciso repartir a terra para plantar e depois colher. Não havia empenho nem prioridade para resolver a questão agrária. Os donos do poder preferiam o amém ao latifúndio e aos grandes proprietários de terras improdutivas.

O receituário neoliberal virou bíblia na era FHC.

Nos pronunciamentos só se ouvia falar no alto endividamento público interno e externo do Brasil, o que, para o governo, justificava a dependência ao capital estrangeiro e a escravidão vergonhosa ao FMI.

Outra justificativa usada pelos economistas para fazer o brasileiro parar de sonhar com a aposentadoria justa era o argumento de que a previdência social estava quebrada. Este motivo também era fartamente usado por eles para dificultar o reajuste do salário-mínimo.

FHC nunca ouviu o povo. Foi um governo explicitamente submisso às ordens lá de fora e ao grande capital. Enquanto isso, o mercado de trabalho dava mostras de encolhimento e milhões de trabalhadores perdiam seus postos de trabalho vítimas de demissões seriadas. Sem contar a desesperança dos jovens em poder estudar, trabalhar e ser alguém na vida.

Os jovens que obviamente não passaram por essa fase de horror acham que é exagero, que é chororô de petista saudoso. Mas não é. É a mais pura verdade.

Deu a louca no mundo

O povo retoma os movimentos. Diferente do jeito de reivindicar e de fazer política dos anos neoliberais, gente organizada por sindicatos pelegos, gente autônoma, gente liderada por pequenos partidos políticos, gente de grupos de ninguém sabe ninguém viu, fazem protestos financiados sabe-se lá por quem e com quais interesses . Enfim, uma massa que faz pose de insatisfeita com o sistema, sem saber que sistema é esse que o oprime e o que quer dele de verdade.

Se apresentam da noite para o dia como revolucionários do sabe-se lá do que e para quem. Misturam Copa do Mundo com saúde e educação, Neymar com salário, ignoram a justiça, negam acordos coletivos firmados via sindicatos e se acham donos da razão.

Confundem manifestação com depredação.

Se a polícia recua, é quebradeira, pichação, incêndio. Se usa a força, é autoritária e violenta.

Se o manifestante vai preso, é arbitrariedade da lei. Se a impunidade prevalece, é a justiça que falha.
Constituinte exclusiva para reformar a política arcaica é pouco. Urge uma constituinte exclusiva para repensar a alma do povo. Se é que Deus ainda é brasileiro.

Vida de humano

Na caminhada costumeira que faço com o Lilico nas manhãs, acompanhei hoje, sem querer, a abordagem dos agentes da FAS - Fundação de Ação Social, a três moradores de rua. Eles estavam sentados numa esquina próxima a minha casa.

Um se dizia cantor e às vezes cantarolava palavras desconexas. Outro alegou que havia brigado na família e que por isso estava fora de casa. O terceiro disse que estava ali porque era solidário aos demais. Disse ter casa e que não havia necessidade da prefeitura se preocupar com eles.

Todos chapadésimos. Entremeavam frases reais a delírios.

Não houve argumento que os convencessem a sair dali. Um deles, o mais novo, era velho conhecido da equipe da prefeitura. Ele dizia que as assistentes sociais do abrigo o trataram bem nas vezes que esteve lá, mas que o problema é a falta de cachaça. Disse que tinha medo de ficar preso. “Mas como o senhor ficou preso, se o senhor saiu de lá e agora está de novo na rua”? Perguntou a agente. “Não adianta dona, lá eu tremo e fico nervoso por causa da droga”, disse o rapaz de 31 anos.

Outro, com a cabeça enfaixada e marca de pontos recém retirados do rosto inchado e ainda ferido, foi o mais resistente. Disse que tinha onde morar e que estava rondando porque brigou com a irmã. Segundo ele, a irmã o quebrou de pau. Sob qualquer intervenção, levantava a voz em tom agressivo.

O cantor estava relax. Enrolado num cobertor sujo, imundo, olhava para o céu e cantarolava baixinho. Enquanto os agentes faziam anotações, olhou-me e perguntou se os três incomodavam a vizinhança. Perguntou também se, como moradora do bairro, eu havia sentido falta de alguma coisa. Falei que não.

Os agentes pediram que eu assinasse como testemunha, foram embora e eu também.

Ah! O mais moço lembrou que vai acompanhar os jogos da Copa no radio de pilha. Ele carrega o radinho no bolso.

Vida de Cão, não. Vida de Cão é bem melhor.

domingo, maio 25, 2014

Cinza constante no ceu, chuva fina na sacada e a echarpe tirada da gaveta para aquecer o pescoço.

Junho se aproxima. O inverno começa a mostrar a cara.

Curitiba, devagar, retoma sua vocação ensimesmada.

domingo, maio 18, 2014

Síndrome coletiva de pessimismo pré-copa

Nelson Rodrigues criou a expressão Complexo de Vira-latas para traduzir o sentimento de inferioridade que assolou o brasileiro após a derrota do Brasil no mundial de futebol em 1950.

À véspera da Copa 2014 tendo o Brasil como sede, o sentimento vira-lata é visível, não apenas no âmbito do futebol - até porque os jogos nem começaram – mas no leque de serviços que o Brasil deve oferecer aos visitantes.

Em roda de amigos, esquinas, por toda parte, sempre tem alguém a dizer: “No Brasil nada funciona. Os aeroportos estão aos pedaços, o trânsito, a segurança estão à beira do caos. Essa copa vai ser uma vergonha!”

Sem arrogância, digo que conheço muitos países nesse mundão afora. Por onde passo, procuro observar costumes, mobilidade e funcionalidade das instituições.

Posso afirmar que o oásis almejado não existe em nenhum lugar do mundo. Todas as cidades, principalmente as de grande porte, apresentam problemas de urbanidade.

Será a favela de Munique menos desigual que a Rocinha? Será o engarrafamento das ruas parisienses convergentes ao Arco do Triunfo menos caótico que a Marginal Tietê? Mais uma pergunta. Se escolhidos a sediar uma Copa Mundial de Futebol, esses países recusariam?

Na verdade o povo tem é medo de acreditar em si mesmo. A atitude negativa nada mais é que o disfarce do otimismo envergonhado. É a proteção necessária para – se o Brasil falhar - estufar o peito e dizer: ”Viu, eu não disse!?

Se vivo, Nelson Rodrigues, substituiria o Complexo de Vira-Latas por Síndrome Coletiva de Pessimismo Pré-copa.

sábado, maio 17, 2014

Mais Médicos em Antonina

Inserida no programa Mais Médicos do Governo Federal, Antonina recebeu com muito carinho os médicos cubanos que irão cuidar das pessoas daquela cidade.

Nesta primeira etapa, vieram quatro profissionais dos nove previstos. Quis o destino que um deles morresse do coração, logo na chegada. Foi um grande choque e motivo de tristeza aos moradores da pacata Antonina.

Os outros três – dois homens e uma mulher – são muito simpáticos e tem olhar de bondade. Eles receberam da senadora Gleisi Hoffmann a mensagem de boas vindas em cerimônia no histórico Theatro de Antonina.

Após o evento

?déjame sacar una foto con usted? Perguntei.

Então nos deixamos fotografar com um orgulho danado em estar ao lado dos médicos.

“Estes são os médicos cubanos da nossa cidade”, dizia orgulhosa a dona do restaurante para os outros clientes que ali estavam.

A fome havia chegado e precisávamos urgente de um pastel de palmito.
Os dois médicos, a dona do restaurante, eu, a médica e a Serli


quarta-feira, maio 14, 2014

Obras de transposição do Rio São Francisco é realidade

A seca do nordeste sempre foi usada para fomentar a demagogia dos políticos coronelistas. Para eles, quanto mais nordestinos miseráveis, quanto mais gente fraca e faminta, mais fácil o convencimento de falsas promessas.

Gente com fome não pensa. Essa era a aposta dos coronéis.

Era. Porque essa realidade cruel mudou nos governos do PT.

Prova disso é projeto de transposição do Rio São Francisco que saiu do papel. As obras estão em pleno andamento e o fantasma da seca não mais assusta.

A presidenta Dilma Rousseff fez vistoria esta semana em trechos nas cidades de Pernambuco, Paraíba e Ceará. A previsão é que as obras fiquem prontas até dezembro do ano que vem.

Estima-se o atendimento de 11,6 milhões de pessoas com fornecimento de água em cidades do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Esse é o jeito petista de governar.

Esforço dirigido a quem mais precisa de políticas públicas.

segunda-feira, maio 12, 2014

É o caos

Deus, Oh Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo em que estrelas tu te escondes?

Manicure de 26 anos foi sequestrada, torturada e morta por suspeita de furto de pacote de biscoitos em Osasco, na Grande São Paulo.
Em Guarujá, mulher foi linchada, espancada até a morte por moradores que a confundiram com um retrato falado que espalhava a notícia falsa de uma sequestradora de crianças.

Vidas ceifadas pela violência praticada por gente. Porque os animais só atacam se provocados.

Que humanidade é essa? Por onde andam os valores da vida? Esse Deus invocado nas preces dos milhares de templos religiosos espalhados na terra perdeu a força? Vale a pena clamar por ele?

Que Deus é esse que permite sofrimentos tão doídos provocados pela fúria assassina de grupos podres, insanos?

O castigo dos homens é suficiente para diminuir, vetar os horrores ou reeducar o coração dos maus?

A fé. E o que é a fé senão desculpa esfarrapada para não enxergar a realidade presente?

Fé em que, no quê e prá quê, se ao homem tudo é permitido, inclusive matar.

Há dois mil anos te mandei meu grito? Onde estás, senhor Deus!

sexta-feira, maio 09, 2014

SOU BANESTADO

Sou época vivida, trabalho 
Da geração dividida, 
Em banco, dinheiro e paixões. 
Sou do tempo dos encontros, nas ruas, corredores 
do “Bom dia, meu amigo. E aí tudo bem?”
Sou quase templo da vida.
Vi encontros, namoros desfeitos, vi amores
Dos outros e o meu também.
No trajeto, vi filho crescer, padrinho, compadre
Na grande família feliz.
Sou da época de gente reunida numa noite quente.
Um ruído atrapalha a conversa.
É o barulho das ondas do mar de Caiobá.
Quem sabe, de Praia de Leste
.

sexta-feira, maio 02, 2014

Oposição sem proposta é uma bosta

Em 2002
Alardeavam que Lula, se eleito, mandaria os sem-teto invadirem apartamento de gente rica, que as cores da bandeira nacional mudariam para vermelho sangue, que o empresariado brasileiro iria de mala e cuia para o exterior...
Lula se elegeu e as profecias da oposição viraram pó.
Em 2006
Na tentativa de ganhar a eleição no susto, inventaram o maior crime do século chamado de mensalão, a partir da denúncia do fracassado e vingativo político Roberto Jefferson do PTB.
Lula foi reeleito, graças a sabedoria do povo que percebeu em tempo a armação sorrateira.
Em 2010
Sempre de olho no golpe, criminalizaram o passado de lutas contra a ditadura da Dilma, acusaram-na de abortista, desqualificaram a mulher no exercício do poder, alimentaram o preconceito da homossexualidade na alcunha jocosa de “sapatão”.
Hoje Dilma é a respeitada mulher presidenta da República, de valor político no mundo inteiro.
Em 2014
E agora, o que a oposição vai inventar prá se dar bem? Já começaram as barbaridades via Petrobrás. Graça Foster fala “x”, eles fazem questão de entender “y” e, com o apoio tático da Globo, detonam a empresa sem medir as consequências.
Mas eles sabem que uma “cepeizinha” aqui, uma “denunciazinha” acolá é pouco para desestruturar o PT a ponto de tirá-lo do páreo nas eleições.

Restará então a violência, a virulência e a decadência moral da oposição. Eles vão estimular quebra-quebra, vão se alinhar a baderneiros para conturbar eventos públicos, vão contratar claques para vaias inconvenientes, vão aprontar muita coisa ruim ainda. É bom ficar de olho.

quinta-feira, maio 01, 2014

O judiciário e a antidemocracia

O acirramento dos debates em ano de disputa eleitoral do cargo mais cobiçado na política – a Presidência da República – é compreensível e faz parte da democracia. É legítima a vontade e a busca do poder.
Mas a qualidade da democracia depende da disposição moral, não só dos pretendentes diretos ao cargo, mas também dos cidadãos responsáveis pelas estruturas que dão sustentação ao Estado. O Judiciário, por exemplo.
É triste, porque não dizer revoltante, assistir o ministro Joaquim Barbosa dar mostra clara de perseguição aos condenados da AP 470, colocando-os em situação vexaminosa, humilhando-os em público e impondo cerceamento aos direitos comuns do regime prisional.
A condenação dos Josés - Dirceu e Genoino - vai além do cumprimento dos anos prescritos em pena.
Os réus estão condenados ao descaso, ao desrespeito das autoridades à história de vida de cada um, fundamentada na luta pela liberdade e apreço às causas populares. Eles estão pagando caro pelo pertencimento a uma frente que substituiu o sociólogo intelectual pelo trabalhador iletrado no Palácio do Planalto.
Como se vê, a postura do Judiciário no trato dos réus da AP 470 exerce influência torpe na escolha da próxima ou do próximo presidente do País. De um lado, alimenta a descrença no ambiente político. De outro, promove a descrença no Partido dos Trabalhadores.
E se a intenção é enfraquecer o PT, então a questão é mais séria do que parece.
Como diz Bobbio, não existe democracia se há cidadãos mal educados para as regras do jogo democrático.