domingo, fevereiro 06, 2022

Moise: Justiça pede passagem na Igreja do Rosário.

 


A Igreja do Rosário, inaugurada em 1737, localizada no centro histórico de Curitiba foi construída por e para os escravos. Não por acaso, movimentos sociais e periféricos decidiram fazer a manifestação para cobrar justiça pela morte de Moise Kabagambe em frente a essa paróquia. 

Sábado, dia de sol ardente na capital paranaense. Centenas de pessoas, gente de todas as raças e cores, munidas de cartazes, fazedores de místicas e vozes indignadas expressaram a dor profunda pela morte trágica do jovem congolês na praia da Barra da Tituca, no Rio. O motivo torpe das agressões - R$ 200 - somada à covardia dos agressores e omissão dos presentes durante as trinta pauladas, deram o tom da revolta naquela tarde de avidez por justiça.

A xenofobia e racismo são males encrustados na sociedade brasileira. 

Uma das portas frontais da igreja se abre. De dentro saem algumas senhoras idosas, brancas, bem vestidas, de semblante assustado ao verem centenas de manifestantes naquele local que imaginaram ser proriedade delas.

Um bate-boca inusitado iniciou-se ali. O padre já incomodado com o entrevero, saiu em defesa de suas fieis, argumentando que o ato não deveria coincidir com a saída da missa. 

Qual a reação dos manifestantes?  Ocupar a igreja. Talvez frente a frente das imagens os santos fossem mais compassivos pelos pobres e oprimidos. 

 O padre fechou a porta por onde as beatas sairam, mas esqueceu de fechar a outra entrada.

Então, um a um, dezenas em fila entraram na igreja e tomaram os assentos com suas faixas e cartazes. No altar, lá onde há poucos minutos a homilia repetia frases convencionais, um jovem negro, no uso da sua emoção verdadeira, fez ecoar a revolta do preconceito, do fosso social imposto aos pobres e pretos. 

De punho em riste e brilho intenso nos olhos, os presentes entoavam palavras de ordem vindas da alma, repercutidas em cada canto da igreja. 

Um dia prá ficar na história. Um dia para desnudar a hipocrisia, aquela onde brancos se apropriam do patrimônio cultural herdado do povo africano escravizado sem ao menos pedir licença. A Igreja do Rosário é um exemplo vivo disso.

Moise, presente.