segunda-feira, agosto 29, 2011

Ato homenageia os “10 anos de luta contra a venda da Copel”

O ato “10 Anos da Luta Contra a Venda da Copel” irá relembrar a grande mobilização dos paranaenses contra a privatização da Companhia Paranaense de Energia - Copel em 2001.
Para reviver este fato histórico recente, foram convidados alguns personagens protagonistas das ações de luta e resistência pela preservação da Copel como patrimônio público do Estado do Paraná.
Sem dúvida, a luta impediu que na época – gestão do governo neoliberal do Jayme Lerner - a empresa caísse nas mãos da iniciativa privada. Para os estudantes, movimentos sociais, sindicais e entidades do campo democrático e popular, 2001 será sempre lembrado como o ano de salvação da Copel.
O evento acontecerá no próximo dia 1º, quinta-feira, a partir das 19 horas, no Espaço Cultural dos Bancários - Rua Piquiri, 380 – Rebouças
Promoção: Fórum Popular contra a Venda da Copel, Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR), Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR), Sindicato dos Servidores do Judiciário do Paraná (Sindijus-PR) e União Paranaense dos Estudantes (UPE).

quinta-feira, agosto 11, 2011

Globo: os princípios, credibilidade e a prática

Por Venício Lima

Não deixa de ser intrigante que os “Princípios Editoriais das Organizações Globo” tenham sido divulgados apenas algumas semanas após o estouro do escândalo envolvendo a News Corporation e um dia depois que um ex-jornalista da própria Globo tenha postado em seu Blog – com grande repercussão na blogosfera – que havia uma orientação na TV Globo para tentar incompatibilizar o novo Ministro da Defesa com as Forças ForçasArmadas.
Deve ter sido coincidência. Todavia, não deixa de ser intrigante que os “Princípios Editoriais das Organizações Globo” tenham sido divulgados apenas algumas semanas após o estouro do escândalo envolvendo a News Corporation e um dia depois que um ex-jornalista da própria Globo tenha postado em seu Blog – com grande repercussão na blogosfera – que havia uma orientação na TV Globo para tentar incompatibilizar o novo Ministro da Defesa com as Forças Armadas.
Credibilidade: questão de sobrevivência
A credibilidade passou a ser um elemento absolutamente crítico no “mercado” da notícia. O monopólio dos velhos formadores de opinião não existe mais. Não é sem razão que as curvas de audiência e leitura da velha mídia estejam em queda e o “negócio”, no seu formato atual, ameaçado de sobrevivência.
Na contemporaneidade, são muitas as fontes de informação disponíveis para o cidadão comum e as TICs ampliaram de forma exponencial as possibilidades de checagem daquilo que está sendo noticiado. Sem credibilidade, a tendência é que os veículos se isolem e “falem”, cada vez mais, apenas para o segmento da população que compartilha previamente de suas posições editoriais e busca confirmação diária para elas, independentemente dos fatos.
O escândalo do “News of the World” explicitou formas criminosas de atuação de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, destruiu sua credibilidade e levantou a suspeita de que não é só o grupo de Murdoch que pratica esse tipo de “jornalismo”. Além disso, a celebrada autorregulamentação existente na Inglaterra – por mais que o fato desagrade aos liberais nativos – comprovou sua total ineficácia. As repercussões de tudo isso começam a aparecer. Inclusive na Terra de Santa Cruz.
Os Princípios da Globo
No Brasil ainda não existe sequer autorregulamentação e as Organizações Globo, o maior grupo de mídia do país, não tem um único Ombudsman em suas dezenas de veículos para acolher sugestões e críticas de seus “consumidores”. Neste contexto, a divulgação de princípios editoriais – sejam eles quais forem – é uma referência do próprio grupo em relação à qual seu jornalismo pode ser avaliado. Não deixa de ser um avanço.
A questão, todavia, é que o histórico da Globo não credencia os Princípios divulgados. Em diferentes ocasiões, ao longo dos últimos anos, coberturas tendenciosas que se tornaram clássicas, foram documentadas. E alguns pontos reafirmados e/ou ausentes dos Princípios agora divulgados reforçam dúvidas. Lembro dois: a presunção de inocência e as liberdades “absolutas”.
Presunção de inocência
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, adotado pela FENAJ, acolhe uma garantia constitucional (inciso LVII do artigo 5º) que tem origem na Revolução Francesa e reza em seu artigo 9º: “a presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística”.
Não é necessário lembrar que o poder da velha mídia continua avassalador quando atinge a esfera da vida privada, a reputação das pessoas, seu capital simbólico. Alguém acusado e “condenado” pela mídia por um crime que não cometeu dificilmente se recupera. Os efeitos são devastadores. Não há indenização que pague ou corrija os danos causados. Apesar disso, a ausência da presunção de inocência tem sido uma das características da cobertura política das Organizações Globo.
Um exemplo: no auge da disputa eleitoral de 2006, diante da defesa que o PT fez de filiados seus que apareceram como suspeitos no escândalo chamado de “sanguessugas”, o jornal “O Globo” publicou um box de “Opinião” sob o título “Coerência” (12/08/2006, Caderno A pp.3/4) no qual afirmava:
“Não se pode acusar o PT de incoerência: se o partido protege mensaleiros, também acolhe sanguessugas. Sempre com o argumento maroto de que é preciso esperar o julgamento final. Maroto porque o julgamento político e ético não se confunde com o veredicto da Justiça. (…) Na verdade, a esperança do PT, e de outros partidos com postura idêntica, é que mensaleiros e sanguessugas sejam salvos pela lerdeza corporativista do Congresso e por chicanas jurídicas. Simples assim.”
Em outras palavras, para O Globo, a presunção de inocência é uma garantia que só existe no Judiciário. A mídia pode denunciar, julgar e condenar. Não há nada sobre presunção de inocência nos Princípios agora divulgados.
Aparentemente, a postura editorial de 2006 continua a prevalecer nas Organizações Globo.
Liberdades absolutas?

Para as Organizações Globo a liberdade de expressão é um valor absoluto (Seção I, letra h) e “a liberdade de informar nunca pode ser considerada excessiva” (Seção III).
Sem polemizar aqui sobre a diferença entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa – que não é mencionada sequer uma única vez nos Princípios – lembro que nem mesmo John Stuart Mill considerava a liberdade de expressão absoluta. Ela, como, aliás, todas as liberdades, têm como limite a liberdade do outro.
Em relação à liberdade de informar, não foi exatamente o fato de “nunca considerá-la excessiva” que levou a News Corporation a violar a intimidade e a privacidade alheia e a cometer os crimes que cometeu?
O futuro dirá
Se haverá ou não alterações na prática jornalística “global”, só o tempo dirá. Ao que parece, as ressonâncias do escândalo envolvendo o grupo midiático do todo poderoso Rupert Murdoch e a incrível capilaridade social da blogosfera, inclusive entre nós, já atingiram o maior grupo de mídia brasileiro.
A ver.
Venício Lima – É professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011

sábado, agosto 06, 2011

Dia dos Pais. Cada uma com sua história

Maria nunca trabalhou fora de casa. Mal conheceu a bodega do vilarejo onde se vendia de tudo: de fumo em corda a tecido de chita. Sete filhas, sete partos, todos em casa. As comadres vinham de longe segurando as galinhas ainda vivas presas nos pés num barbante encardido. A ave, coitada, era o presente para a comadre que acabara de dar a luz a mais uma menina. Prá quê roupinha de bebê se o mais importante era saciar a fome da mãe? Canja de galinha ajudava a mãe a ter mais leite nos primeiros dias depois do parto.
As irmãs mais velhas retornam pouco a pouco. Foram obrigadas a se esconder no porão da casa até terminar os trabalhos do parto. Ordem da parteira, mesmo em dia de frio intenso.
O pai? Pra ele nada de novo. Prazer poderia ter se por ventura viesse um filho varão. Mais uma menina, a terceira, quarta, que diferença faz. Lá pelas sete da noite, no lusco-fusco, o velho chega cambaleante. Um trago a mais na cabeça e o homem apronta mais uma das suas, das muitas que aprontou na vida. Maria presa na cama mal se mexe e aquela criança novinha chora, chora, chora. A mais velha das meninas corre por lenha no fogão. Água quente, rápido. O velho esbraveja. Quer deitar e ninguém ainda escaldou-lhe os pés. E a janta? Porque ainda não está pronta? Faz voar pela janela a primeira panela que vê pela frente. Ameaça dar um murro numa das meninas. Mais esperta que o pai, a menina corre e se esconde no quintal. Amedrontadas, todas correm e ele fica esbravejando sozinho na cozinha. Opa! No quarto tem gente. Antes de cair sujo, faminto na cama, dá um murro na Maria e quase mata a criança que ela protege nos braços frágeis.
Calmaria. Uma a uma, as meninas entram na casa e vão até o quarto ver o estado da mãe. Ela chora e pede baixinho para Deus acalmar o marido. Prá Deus dar-lhe forças para agüentar o rojão. Prevendo que no dia seguinte a situação ainda possa ser pior, pede para que uma das meninas compre meia garrafa de pinga. Maria pensa: “na hora em que ele estiver bem bravo, se tiver uma pinguinha por perto ele sossega.”
A esperança é que Maria um dia possa dar-lhe um filho homem.