sábado, dezembro 19, 2020

Covid, Jair e mortes

 Não fosse a firmeza do ministro Alexandre de Moraes em frear atos anti democráticos, baderneiros da pior espécie estariam até hoje aterrorizando instituições em Brasília.

Pior. Ações violentas planejadas sob testemunho e conivência do governo JairB. 

Situações de gravidade semelhante continuam a ocorrer no país hoje,  porém sem a atenção devida das autoridades.

A Covid é uma delas. Alheiamento à realidade falta de pulso, pusilanimidade talvez,  permitiu o avanço incontrolavel das mortes. 

Legislativo e Supremo se curvaram às inépcias, banalizaram às fanfarronices do Governo ao invés de tomar as rédeas da situação.

Enquanto isso, uma horda moldada a imagem e semelhança do líder linguarudo mentiroso se fortalece e cria embaraços para frear a contaminação da doença. 

Que JairB é presidente eleito e tem prerrogativas inerentes ao cargo, todo mundo sabe. Contudo, a procuração passada nas urnas não lhe permite omitir do cidadão o valor da vida e os meios para preservá-la. 

Ainda há tempo. É só querer.

quarta-feira, novembro 18, 2020

O ser e o voto. Nuances.

Me imagino numa nave a observar o movimento humano na terra. Das alturas, me sinto instigada a ler e entender o pensamento do povo brasileiro.

No burburinho, ouço jornalistas empenhados a falar no amontoado de siglas partidárias. Escuto intelectuais a falar em direita, esquerda, centro etc e tal. Também vejo uma fila de homens e mulheres mascarados a votar em suas cidades. Sem alarde, votam e voltam para suas casas com a sensação do dever cumprido.

O homem que votou numa negra porque negra é, se preocupou em saber a qual partido ela pertence?

A mulher que deu o voto a uma transsexual se orientou por sigla partidária na hora do voto?

O cidadão que votou no índio levou em conta o nome do partido dele?

Um horizonte distinto se configura na razão das escolhas.

A valorização do outro pertencente a história renegada e a aceitação do outro como semelhante capaz de fazer diferenças. Eis a questão.

Será indicio de conscientização coletiva diferenciada se desenhando do espaço?

Sirlei Fernandes

terça-feira, novembro 17, 2020

Robustez político-partidária em pauta

Cedo ou não, pipocam análises a respeito de resultado das eleições municipais 2020. A unanimidade, parece, está na constatação do declínio da extrema-direita representada por seu líder maior, o presidente da República.

Sem partido, Jair apoiou seus preferidos de forma ilegal. Usou a estrutura pública para pedir votos. Apenas mais um ato a constar no rol de barbaridades praticadas pelo presidente. A estratégia foi frustrante.
E por falar em quem perdeu quem ganhou, a conversa da hora diz respeito a formação de uma Frente Ampla das Esquerdas rumo a 2022. Com a devida vênia, cumpre-me alertar que a ideia já nasce torta.
A Frente Ampla já existe. Basta ver a espontaneidade e ligeireza dos partidos progressistas em apoiar os candidatos de esquerda que foram para o segundo turno das eleições. Aplausos.
Outra questão. É difícil, quase uma utopia, imaginar que através do entendimento sereno se consiga escolher um nome que represente todas siglas num primeiro turno. Perder-se-ão horas em reuniões, debates, não raro afunilado em desgastes e aberturas de feridas às vezes de difícil cicatrização.
Mas... vem aí uma ideia interessante.

Que tal trazer de volta os Foruns?
Pode ser a realização do Fórum Brasileiro das Esquerdas Progressistas organizado por movimentos sociais, lideranças identificadas com o ideário socialista, partidos de esquerda, presença de lideranças da América Latina... Seria um sonho?
Arrisco afirmar que o Fórum Social dantes realizado teve edições gigantescas e profícuas. Se perdeu no caminho devido a obamização que impressionava o mundo com um negro presidente dos EUA. Se perdeu por não se achar num planeta assim tão extremado como hoje é o Brasil sob o governo Jair Bolsonaro, cópia do louco Donald Trump.
O mundo mudou. O Brasil mudou. 2013 foi o marco. Sete anos de absurdos. Mas dá para correr atrás do prejuízo.

domingo, agosto 09, 2020

Uma história. Um pai. Uma vida.

Anos de economia próspera por conta da exploração da madeira, principalmente da derrubada dos pinheirais em abundância. As serrarias davam vida a pequenos vilarejos, cujos habitantes lá trabalhavam na transformação das enormes toras em tábuas prontas para transporte.

Uma ou duas bodegas de venda de cereais a kilo, metros de xita e fumo de corda. Dois a três botecos onde homens de camisa xadrez desbotada batiam ponto após dia de lida bruta. A igreja no alto patrocinada pelo madeireiro rico e a escola primária donde numa sala só se aprendia caligrafia e tabuada da 1ª a 4ª série. As mulheres a lavar roupa no tanque a beira do olho d´agua, assar fornadas de pão no forno de lenha no quintal e a amamentar a prole.
Assim passavam os dias.
O bom dia comadre e como vai compadre dava mostra inequívoca que todos se conheciam.
Até que.
Um homem negro, alto, jovem e bonito. Assim podia se descrever o homem que por lá apareceu sem ninguém esperar.
Bastaram poucos dias para Horácio -assim ele se chamava - estabelecer-se como carpinteiro no vilarejo. As madeiras brutas ganhavam forma de guarda-comida e, dizem, de caixões de defunto feitos no maior capricho.
Foi na entrega de um guarda-louça encomendado por Astrogildo, morador das antigas da vila, proprietário de grande quantia de terra, que o coração do Horácio deu saltos.
O começo aconteceu ali, entre olhares marotos de cumplicidades. Os olhos de Mirian brilhavam enquanto o pai e o carpinteiro se acertavam nos detalhes do móvel. Horácio voltou uma, duas, mais vezes naquela casa só para ver Mirian. Eles estavam apaixonados. Essa era a grande verdade.
Mas a felicidade durou pouco.
Ao saber do interesse de Horácio pela filha, Astrogildo virou um bicho. Esbravejou aos quatro cantos dizendo jamais permitir que uma filha sua se casasse com um preto aventureiro filho de escravos.
Magoado, decepcionado com a reação do velho Astrogildo, Horácio renuncia a sua grande e fugaz paixão. De pronto fecha a pequena oficina de carpintaria e some pelo mundo afora.
Dezesseis anos se passaram.
Passou só no calendário, porque a rotina pacata da vila continuava tal qual anos atrás.
Ele continuava bonitão, mesmo com aparência um pouco mais amadurecida denunciada pelos fios de cabelo branco.
Horácio voltou.
Muitos se lembravam dele e se apressavam a contar as novidades desde então. No fundo, no fundo Horácio queria mesmo era saber da Mirian.
Mirian casou. Vivia com Juvenal, homem branco, olhos verdes, tal qual Astrogildo queria como genro ideal. Sete filhos. Isso mesmo. Mirian tinha sete filhos, quatro homens e três mulheres. A filha primogênita recebeu o nome de Maria, mas desde pequena chamavam-na de Morena.
Morena tinha compleição miúda, meio tímida e muito trabalhadeira. Filha mais velha, teve que ajudar a mãe Mirian cuidar da criançada procriada depois dela. Tinha só quinze anos, mas aparentava mais idade dada a dura vida imposta pelas circunstâncias.
Encostado no balcão, Horácio viu uma mocinha sair da bodega com pesadas sacolas nas mãos. De imediato ofereceu ajuda e, embora reticente, a menina resolveu aceitar o préstimo.
Qual surpresa de Horácio, ao descobrir que a jovem era Morena, a filha mais velha de Mirian, a mulher cuja paixão arrebatou-lhe os sentidos noutros tempos.
Ao reconhecer Horácio, Mirian oferece um café ao inesperado visitante e em poucas palavras falam da vida e suas reviravoltas.
Horácio contou que havia casado, que teve duas filhas e agora estava viúvo. Disse que as meninas estavam morando temporariamente com a avó, mãe da falecida mulher, mas que a intenção dele seria se estabelecer na vila e trazer as filhas para morar junto.
Pois bem. Do canto da sala Morena ouviu toda a história sem dar um pio. Ela não entendeu nem tampouco perguntou à Mirian de onde e se já conhecia Horácio. Achou normal a mãe conversar com um estranho que a acompanhou até em casa.
Vez ou outra Horácio via Morena a andar pelos carreiros da vila. Trocavam cumprimentos e não raro até breves palavras.
Até que um dia veio a cartada. Horácio pede à Morena para fugir com ele. Alegou, a princípio, que precisava de alguém que cuidasse das duas filhas dele, mas que também gostava dela.
Morena ficou desesperada, passou a noite sem dormir pensando na inesperada proposta. Mesmo jovem e despreparada, topou fugir com Horácio. Estava se sentindo cansada, sem perspectiva nenhuma de futuro na casa dos pais.
Mirian virou-lhe as costas. Por um bom tempo não falou com a filha. Afinal, a Morena fugiu com o homem que foi sua grande paixão na juventude.
No novo lar, Morena trabalhava como nunca. Sem experimentar maternidade, cuidava das meninas do Horácio sem se dar conta da vida minguada.
Até que um dia Morena engravidou. Teve uma filha aos trancos e barrancos que veio a falecer aos dois anos. Morreu de fome e desnutrição. Os antigos diziam que era Doença de Macaco.
Nessas alturas já estava grávida de novo. Nasceu outra menina e depois mais outra... Ao todo, Morena vingou sete filhas.
Horácio era um pai carinhoso, homem bom. Mas quando tomava umas cachaças... o que era por demais frequente, a filharada se escondia no porão até ele se acalmar. Nas crises de bebedeira, ficava agressivo, jogava panelas para o alto, depois ia prá cama. No outro dia fazia tudo igual.
Morena sofria para cuidar sozinha das duas enteadas mais das filhas que vieram depois.
Vendo as filhas dele com a primeira mulher a sofrer privações, Horácio decidiu levá-las para morar com a avó materna, distante a uns 30km da vila.
As demais crianças viviam aos trancos e barrancos. Se a cabrita desse leite e o milho verde florescesse, tinham o que beber e comer.
Até que.
Lidia, irmã mais nova de Morena, uma jovem de porte bonito com jeito de moça da cidade, aparece na vila em visita à mana. Elas não mais se viram desde a fatídica fuga.
Lidia se surpreendeu com a vida precária daquela família. Ficou assustada com uma renca de crianças a sobreviver por teimosia naquela pequena casa fria cheia de frestas no chão de tábuas gastas.
Lidia pensou num jeito de ajudar Morena. Sugeriu - e Horácio de imediato concordou- em levar a maiorzinha de uns 3 anos para morar com a avó Mirian.
Há tempos Mirian havia se mudado da vila. A família foi embora de mala e cuia para uma cidade distante. A serraria encerrou as atividades e, sem perspectivas, muitos que dali tiravam o sustento abandonaram o povoado.
A menina cresceu criada pelos tios e avó. Só viu mãe, pai e as 6 irmãs mais novas – umas três vezes até completar 20 anos.
...
Noite de Carnaval. Como toda cidade do interior que se preza, os bailes nos clubes ferviam até o amanhecer. Lá pelas três da manhã um homem em trajes não carnavalescos, adentra o salão, avista a jovem a brincar esfuziante a marchinha, puxa-lhe o braço e diz:
- “O seu pai morreu”.
- Pai? Que pai? Exclama a menina assustada. Quando ele morreu?
- Há uns dois meses.
A menina decidiu pensar no caso só no outro dia. Afinal, o último dia de carnaval é sagrado e a ordem é aproveitar até o último acorde.

sábado, maio 23, 2020

Da reunião ministerial. Cenas de terror.

Hello!! Tarantino, Scorcese... roteiro inspirador.

Gente do céu... não tem como não pensar nas cenas da reunião ministerial divulgada ontem. É tudo muito surreal.

Uma mesa grande oval. Em volta um monte de homens feios, enferruscados e malvados, uma evangélica doida varrida, todos a dar ouvidos a um homem destemperado,  ameaçador, violento por natureza.

Quase duas horas de cenas de terror. Os olhos do presidente saltavam em cada palavrão proferido. As mãos, os dedos a servir de apêndice ao ódio exalado.

De tudo, há de se perguntar.

Que país é esse onde mais de mil pessoas morrem por dia vítimas de um vírus maldito, e o presidente não diz um "a" sobre a essa preocupante realidade?
Que país é esse onde a palavra liberdade, linda como ela só,  significa licença p'ra matar, significa a concessão de espaço para o "eu mando e você obedeça"?
Que país é esse onde homens e mulheres que  se dizem cristãos ouvem calados palavrões que até Deus duvida? 
Que país é esse onde a noticia da morte pode ser útil para fomentar agressões ao meio ambiente?
Que país é esse onde quem não obedece ordens do mandatário, é ameacado de morte, de prisão. É xingado de bosta, vagabundo?
Que país é esse onde militares deixam de servir a Pátria para tornarem-se servis a um governo cujo projeto para o país é não ter nenhum projeto para o país?

Não pode ser. Aquilo não pode ter sido uma reunião ministerial. É pesadelo.

Tá  tudo errado.

Sirlei Fernandes

terça-feira, maio 19, 2020

Se a Globo não quer, dois não brigam



Assim como quem não quer nada com nada, me aproximei do diálogo.
Eram três pessoas: duas mulheres e um homem. Elas, sentadas no chão da área em frente a casa;  ele, beirando o muro do outro lado, sentado no selim  da bicicleta.
Elas; uma ao lado da outra, com um folder evangélico sob o colo, de saias escuras, pernas juntas e cabelos presos. Simpáticas e sorridentes.
Ele; loiro, magro, de barba por fazer, voz eloquente e cheio de histórias p’ra contar.
Todos  sem máscara.
Passei rente ao trio e, sem querer, ouvi as palavras Lula, Haddad e Globo.
Mesmo com sacolas pesadas nas mãos e um peso danado na mochila, pedi licença para ouvir a conversa. Disse haver me interessado pelo assunto e que queria aprender um pouco com eles.
A conversa era sobre a cloroquina. 
O rapaz disse que a não aceitação do medicamento aqui no Brasil diz respeito a briga entre a China e os EUA. Impressionou a certeza dele em afirmar que o país asiático é o único responsável  pela disseminação do Corona Virus.
A ênfase foi tanta que as duas mulheres quase desmaiaram de susto. Exclamaram: “Jesus!”
E continuando.
Ah! Por trás dessa complicação da cloroquina está George Soros. Segundo o ciclista, Soros é o principal financiador do Lula e do Haddad. Que o milionário é dono de laboratório distribuidor de um similar da cloroquina, só que vende o produto por um preço bem mais alto. Então, de acordo com o raciocínio do professor – ele contou que dá aula no Colégio Santa Cândida -  está aí o motivo de a esquerda ser contra, já que está faturando alto com a venda do remédio do  Soros.
E tem mais.
Isolamento, quarentena? Medidas adotadas para a vagabunda [sic] da diretora da escola descansar em Guaratuba. Que países como a Suécia, Coreia do Sul...  dispensaram  esses exageros e nem por isso tiveram pico da doença. Não foram prejudicados na economia.
Sobrou para a Globo.
A grande culpada de tudo o que está acontecendo no país é a mídia. Notícias? Informações verdadeiras? Ainda bem que o povo brasileiro tem a Record.
Entre lábios, deu para perceber um “amém” com ares de agradecimento das mulheres ali sentadas a prestar atenção na convincente fala.
Nenhuma TV presta, mas a Globo virou esgoto. Ela impõe medo. E o medo mata. Não é a Covid19 que mata. É o medo que a Globo finca nas pessoas. Ninguém, absolutamente ninguém, deve assistir a Globo. 
Mais um “amém”.
Só ouvi. Não fiz perguntas, nem tampouco contrariei  o teor,  da “aula” política gratuita a ceu aberto deste dia seco e ensolarado.
Aliás, só fiz uma pequena observação.  Perguntei o que o professor tinha a dizer sobre as fake news, visto que o argumento principal dele ao defender suas ideias é o de que vivemos uma grande mentira. Que tanto na pandemia, como na política, o povo é vitima de informações falsas. 
Nisso, um outro homem surgiu de dentro da casa e, com um sorriso maroto, mandou o “bolsonaro” ir pedalar. O professor riu.
Minha pergunta ficou sem resposta.
As mulheres também se levantaram e... fui.
É muito aprendizado para um dia só.

Sirlei Fernandes

segunda-feira, abril 13, 2020

Sequência das caminhadas em tempos de CoronaVir

O domingo de Páscoa rendeu bons quilômetros andados. A primeira visita foi p'ra Rejane Morais.
Aperto a campainha e quem me atendeu de pronto foram três  pets bagunceiros. Não demorou muito e a dona da casa surge de máscara e tudo  com um baita brilho nos olhos.  Conversamos um pouco, ela p'ra  dentro e eu p'ro lado de fora do portão. Fazia um bocado de tempo que não nos víamos. O Serginho, o maridão, apareceu na janela. Ele foi testemunha da promessa feita pela Rejane: quando o CoronaVirus partir,  fazer um baita  churrasco, daqueles de ficar a tarde inteira comendo, bebendo e dando muita risada. Fui.

Mais ou menos um quilômetro adiante, lá está  a casa dos Geronasso:  irmã, cunhado e sobrinha. Mais um "oi tudo bem?" e lá  fomos  nós -  eu, Paçoca  e Tuca -  pelas ruas desertas do Boa Vista.

Próxima  e última  parada do dia: casa da No, da Noerli Barbosa.
Em cumprimento às repetidas  recomendações, nada de aproximação, mão pegada,  nem  três beijinhos. Mas a No quebrou um pouco o protocolo. Passou pelo vão da cerca uma xicara com o café que havia acabado de fazer. Que delicia de café!
Amanhã tem mais.

Ja visitados: Rosemery Marcengo, Nil Bira

Visitas em tempos de CoronaVirus

Cansada de ficar trancada dentro de casa, resolvi fazer algo diferente.
Comecei ontem. 
A pé, visitei a amiga Rosemery Marcengo Pelo interfone, a cumprimentei falei rapidamente  das minhas  saudades e tiau.  Fui.
Hoje andei um pouco mais.  Fui até a casa do Nil Bira. Ele não estava lá. Deixei uma flor vermelha presa na fechadura  do portão e fui.
Amanhã vou visitar uma amiga cujas iniciais são RM.
Não entrarei. De longe direi 'estou aqui' e ficarei  feliz em ouvir a voz do outro lado a  dizer 'que legal!'
A ideia é fazer uma boa caminhada por dia e em cada uma delas, uma visita diferente.
Um excelente exercício fisico, mental e espiritual em tempos isolados.
Sem comprometer os cuidados com o vírus, claro.

Querem extinguir o PT

Opinião
A mais recente ameaça ao aniquilamento de vozes  discordantes do bolsonarismo diz reapeito a  despachos  atravessados sobre a cassação do Partido dos Trabalhadores.
Assusta. Não  dá para banalizar o intento, por mais estapafúrdio  e irreal  que possa  parecer.
A história recente  mostra a queda de uma presidenta legitimada nas urnas, sob o pretexto de um crime que de  crime nunca houve.
Trancafiaram por 580 dias a mais expressiva  voz das esquerdas do mundo num cubículo de 15m2, para impossibilitar  sua candidatura e presença  nas eleições.
Em ambos oa casos, a reação incrédula prevaleceu e a realidade veio a galope para sufocar esperanças.
E as leis? A justiça?  Indiferentes, frias, patéticas.
O PT corre risco de ser banido? Sim.
Enquanto isso, as excelências da toga lançarão olhares irônicos do degrau de cima e dirão: O que é mais uma sigla entre tantas?

quinta-feira, março 19, 2020

METAMORFOSES EM TEMPOS DE VÍRUS

O otimista:
A pior fase já passou.

O pessimista:
Isso é só o começo.

O esperançoso:
Amanhã será outro dia.

O espírita:
Isso é coisa de outro mundo.

O crente:
O sangue de Jesus tem poder.

O alarmista:
Metade da população será infectada.

O desligado:
Virus? Que virus?

O precavido:
Liquidou o estoque de papel higiênico do mercado.

O egoísta:
Ajuda velhinha atravessar a rua sem dar-lhe a mão.

O idiota:
Acredita no Jair.

CoronaVirus veio pra matar

Primeiro o Vírus se propagou na Ásia  e na Europa.
°Não tenho nada a ver com isso. Moro no Brasil.°

Não demorou muito  e o virus se alastrou no Brasil.
•Não tenho gada com isso. No meu  Estado não  chegou.•

Apareceram os primeiros sintomas no meu Estado.
• Não tenho  nada com isso. Em minha cidade ninguém se infectou.•

Eis que surgiram alguns casos em minha cidade.
•Não  tenho nada com isso. Minha família está imune.•

Socorro! Tem gente na minha família  infectada!!! Socorro!

Eu tenho tudo a ver com isso. O próximo inevitavelnente sou eu.

quinta-feira, março 05, 2020

MARÇO, MÊS DA MULHER

Se a mulher chora, é chantagem emocional.
Se o homem chora, é sensibilidade aflorada.

Se a mulher se queixa de cansaço,  é molengona.
Se o homem se queixa de cansaço, é porque trabalhou muito.

Se a mulher tem estresse, é TPM.
Se o homem tem estresse, é esgotamento nervoso.

Se a mulher chega sozinha no bar, vai caçar homem.
Se o homem chega sozinho no bar, vai se encontrar com os amigos.

Se a mulher trai,  é puta.
Se o homem trai, é garanhão.

Se a mulher ri alto, quer chamar a atenção.
Se o homem ri alto, a piada foi boa.

Se a mulher toma atitude, é autoritária.
Se o homem toma atitude, é líder.

Se a mulher se vê refletida nestas linhas, já sentiu  dor da opressão.
Se o homem se vê refletido nestas linhas, à  opressão diga não.

quarta-feira, fevereiro 26, 2020

Foi assim. É assim.

FOI  ASSIM
Primeiro dificultaram ao máximo as condições p'ra se aposentar.
(Já sou aposentado, portanto essas medidas não me afetam)

Primeiro reduziram aa máximo as concessões  do Bolsa Família.
(Tenho força e fé em Jesus. Ele vai me ajudar a achar um emprego)

Primeiro sancionaram leis prejudiciais à  sobrevivência dos sindicatos.
(Trabalhador que é trabalhador não  precisa  de sindicato)

Primeiro acabaram com as diretrizes educacionais, zombaram dos intelectuais e humilharam os estudantes.
(É um bando de gente metida a besta, de juventude baderneira. Merecem um corretivo)

Primeiro condenam adversários sem provas e não admitem contestação.
(Ta certo. Tem que prender mesmo. Roubou tem  que se f*der)

É ASSIM
O cidadão já aposentado terá que sustentar o membro da familia incapacitado  para o trabalho por velhice ou invalidez. Tá bom p'ra  você?

Você tá desempregado, criançada de barriga vazia em casa e vai à igreja se queixar p'ro pastor. Os poucos trocados que ainda restam no bolso se converterão em dízimo em troca do aconselhanento prestado. Duvida? Pague p'ra ver.

Enfraquecer os sindicatos significa minar a representatividade dos trabalhadores em  negociações que tratam, entre outras, de acordos garantidores de condicoes dignas de trabalho e ganho salarial decente. Vai encarar?

Desconfie daquele que se julga capaz de reinventar a roda, que banaliza o conhecimento, que desacredita no potencial da inteligência alheia.
Na verdade, a aposta na ignorância é o atalho da manipulação coletiva rasteira. Aceita ser tratado como gado?

Lula comete vários crimes ao ser ouvido quando fala, abraçado quando lhe tocam e de ser amado e respeitado em demasia pelo
povo igual multicor.
Corrupção é apenas a tipificacao destes crimes cometidos a exaustão pelo ex presidente.
Amanhã você poderá ser punido por estes  mesmos motivos.

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

A vida não é bela

Aparentava uns 25 anos ou pouco mais. Magro, barba por fazer e os dentes meio  estragados.
Ofereceu- se para cortar a grama a um preço de R$30.
De ferramenta para o trabalho, só uma máquina velha na mão. Nem tesoura, nem vassoura, nem sacos plásticos para colocar o lixo.
Mas o olhar parecia de súplica. O sorriso tímido parecia implorar pelo trabalho.
O tempo ensaiava chuva e  Romeu,  este é o seu nome, tinha que se apressar na tarefa.
Enquanto uns pingos caiam, Romeu tomou um café e durante o pequeno descanso proseou.  Contou que era da Venezuela. Fazia um mês e meio que estava em Curitiba.
A esposa, sogra e a filha de dois anos vieram há dez dias do país vizinho. Eles  moram num barraco no Bairro Alto. A mulher procura emprego de diarista, empregada, mas a língua atrapalha. 
Romeu anda quilômetros a pé todo santo dia de casa em casa a procura de grama alta para cortar.
Nem todas as portas lhe abrem. Algumas pessoas tem medo de acolher um estranho no jardim.
A chuva pára.
Da porta da sala, dava para ver Romeu sentado na calçada mexendo na máquina. O fio de nylon havia arrebentado.
Ele não tinha dinheiro para comprar um novo fio. Continuou a cortar a grama com tesoura e a tarefa enfim foi concluída.
Levou de presente a vassoura, a tesoura e uns  sacos plásticos para facilitar a feitura e contratação de serviços noutros lugares.
Estava longe de casa. Uns oito quilômetros. Lá foi Romeu com um  peso danado a carregar nos ombros.
Mas conseguiu um pouco mais de R$30.
Ah.. A filhinha se chama Marta.

quinta-feira, janeiro 09, 2020

Na Ilha de Itamaracá

As noites são compridas, iguais
Mas o sono é diferente
N'alguns o sonho é cantante
Noutros, almas carentes.

De passeios, das distâncias
Vê-se logo preferências
Uns se alegram no asfalto
Outros na terra poeirenta

Da comida boa, do queijo,
 fruta doce no sabor
A mão que faz a tapioca
Põe mais gosto, sim senhor.

O cajueiro frondoso, a aroeira
A fresca brisa do mar
Se combinam no deleite
Da rede a balançar.

Soma tudo a areia fofa
Toda branca p'ra pisar
Junto ao azul mar imponente
No infinito do olhar.

Ilha de Itamaracá
de 26dez29 a  8jan20