domingo, outubro 20, 2013

É proibido proibir

Zé das Pedras é um cara famoso. Seus discos venderam como água nas décadas de setenta oitenta. Já ganhou prêmios internacionais como intérprete e compositor, inclusive de trilhas sonoras adaptadas ao teatro e cinema. Enfim, é um cara que nasceu para o sucesso.

Gente interessada em documentar a trajetória do Zé escreveu um livro sobre sua vida. Uma obra bonita de 200 páginas. Lá na página 187, tem uma passagem inusitada da sua biografia. Conta o escritor que Zé tinha mania de emitir flatulências enquanto pensava, enquanto se entregava aos devaneios inspiradores de sua criação. A narração vai mais além. Afirma que, quanto mais forte o odor dos gases , mais o artista se inspirava na composição dos versos.

O livro virou bestseller da noite para o dia. De norte a sul, todo mundo comentava a biografia do Zé. Só que a vida dele virou um inferno.

A dona da padaria da esquina da casa do Zé torcia o nariz quando ele entrava no estabelecimento comprar o pãozinho de cada dia. Certa vez Zé escutou a vendedora cochichando com uma amiga se o cheiro da flatulência não iria contaminar o sabor dos pães.

Pior mesmo aconteceu naquele domingo. Como sempre, Zé foi à praia tomar um delicioso banho de sol. Bater um papo gostoso com a galera. A fim de relaxar, deitou na areia e fechou os olhos para ouvir o balanço do mar. Ao abri-los, viu que não tinha mais ninguém ao redor. O vendedor de coco disse-lhe que a moçada ficou com medo que ele infestasse o lugar.

E o talento do Zé? A flatulência ofuscou.

GREVE É INEVITÁVEL. SERÁ?

Desde 2011 o reajuste do salário mínimo tem regras definidas. O valor é calculado com base no percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mais a reposição da inflação do ano anterior pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

Até então, a definição dos índices era precedida de intensa mobilização social provocada principalmente pelas centrais sindicais. Trabalhadores aposentados e ativos saiam às ruas em luta pelos direitos. Pipocavam manifestações e caravanas seguiam em marcha rumo à Brasília. Tempos memoráveis.

O salário mínimo por decreto - bem ou mal - acalmou os ânimos da agenda sindical no trato do tema.

Mas a reflexão deste texto não é esta. É sobre a convenção coletiva de trabalhadores pertencentes a categorias organizadas em torno de grandes sindicatos.

Nas datas-base, as reivindicações são múltiplas, mas o carro chefe das negociações e o incentivo à deflagração de greve se acentua no impasse das cláusulas econômicas.

Não raro, a intransigência resulta em dias e dias parados, perseguição de chefias - o sindicato pede 10, o patrão propõe 5 e no final fecha-se em 7,5 - reposição ou desconto dos dias parados. Os sindicatos cantam vitória, os trabalhadores nem tanto, e tudo volta ao normal até o próximo ano, quando tudo novamente se repete.

A inquietação está no porquê e a quem interessa o habituê anual de paralisações. Greve é medida desgastante, coloca o trabalhador entre a cruz e a espada: se adere, sofre com o medo da demissão; se fura, é taxado de “fura- greve” pelos colegas. De outro lado, também tem uma população prejudicada pela falta de atendimento.

Ingenuidade não. É sabido que na política grandes líderes nascem do palco das assembléias e que a criação de partidos políticos são facilitados no âmbito das estruturas sindicais.

O discurso da retomada de conquistas e avanços feitos pelas lideranças sindicais é uma forma segura de aproximação e fortalecimento de vínculos com a classe trabalhadora.

Mas então? Custa a crer que, diante dos avanços das relações trabalhistas, da evolução e novas formas de comunicação em todos os meios, o prestígio dos sindicatos esteja atrelado à capacidade de mobilizar os trabalhadores para cruzar os braços.

Não se trata da visão maniqueista de ser contra ou a favor de greve. A questão é pensar em alternativas menos desgastantes e ao mesmo tempo capaz de garantir os direitos dos trabalhadores.

Uma boa saída seria encaminhar as negociações de forma a vincular aumento salarial a indexadores econômicos, aos moldes de como é tratado hoje o reajuste do salário mínimo. Jeito tem. É só pensar numa concepção mais modernizada da relação trabalhador-sindicato. Uma relação adaptada a agilidade própria de quem não tem tempo a perder.



Aos companheiros do movimento sindical, peço desculpas pela ousadia e desde já preparo as costas a bordoadas.

quarta-feira, outubro 02, 2013

Quem usa máscara é covarde

Resultou numa baita confusão a junção dos black blocs e professores em greve no Rio. Bens públicos depredados, pancadaria, tiros da polícia e uma correria doida assustaram os cariocas na tarde de ontem.
Há quem defenda a presença dos mascarados nas manifestações, com a justificativa de solidariedade à classe. Bonito gesto se as ações dos grupos não resultassem em prejuízo para bolso do cidadão comum, esse que trabalha, paga imposto e depende do bom funcionamento dos serviços públicos. As cenas de quebradeira em nada contribui para resolver os problemas do país nem a curto, nem a longo prazo.
Violência gera violência. Até prova ao contrário, se esconder atrás de uma máscara com o objetivo de desafiar as instituições é, no mínimo, atitude de quem tem merreca na cabeça.