terça-feira, janeiro 31, 2012

Curitiba tem carnaval? Tem sim sinhô.


Entra prefeito, sai prefeito e até agora nenhum deles olhou com carinho para os festejos do Carnaval em Curitiba. É praxe dizer que curitibano não curte a folia, que o povão se manda prá praia e que a cidade fica vazia durante o feriadão. Que carnaval só é lembrado no litoral. Que curitibano e carnaval não combinam. É piada. Será?
De uns tempos prá cá essa realidade mudou. Tem mudado tanto que milhares e milhares de pessoas se juntam no Largo da Ordem nas tardes de domingo – faltando um mês antes do Carnaval – para sambar e brincar ao som dos Garibaldis e Sacis. O som das marchinhas faz eco com o coro formado pelos foliões, em busca de alegria na cidade que se diz indiferente ao Rei Momo.
O bloco começou tímido. Já passa de dez anos. Eram apenas famíliares e alguns amigos com vontade de se divertir um pouco na rua. Crianças penduradas no pescoço dos pais cantando junto “o jardineira porque estás tão triste.” E o bloco cresceu, como um fenômeno.
O poder público está indiferente. Prefere insistir no decadente desfile das escolas de samba sem empolgação. Nada contra os desfiles. Se tem gente que gosta, há de se respeitar. Mas isso é pouco diante da opção de uma parcela expressiva da população pela folia do Largo.
Será que não é hora da prefeitura rever os conceitos de alegria e diversão carnavalescos em Curitiba? Que tal ampliar as medidas de segurança, transporte, banheiros, atendimento médico. É o mínimo que pode ser feito pelas pessoas que saem de suas casas para tornar esta cidade mais feliz. Menos fria.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Privataria Tucana: mais de 200 pessoas no lançamento do livro

No lançamento do livro do jornalista Amaury Junior "Privataria Tucana", o nome do falecido Banestado foi bastante citado. O banco foi vendido para o Itaú há quase doze anos. Na memória dos bancários continua viva a lembrança do desfalque, das falcatruas e da manobra do Governo Lerner para vender o banco a qualquer custo.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Porque Curitiba tem jeito

Curitiba é uma cidade chique. Pelas ruas, gente culta, bonita e feliz. E não é prá menos. No Palácio Iguaçu tem um governador que, segundo pesquisa, tem seus 80% de aprovação. Curitiba tem um prefeito criatura que já foi vice do atual governador, que se vira nos trinta para manter o padrão administrativo herdado pelo criador. O curitibano é privilegiado por excelência!
Se você não se enquadra na categoria dos satisfeitos, arrume as malas. Agora, se você quer protagonizar um papel importante para fazer de Curitiba uma cidade ainda melhor, preste atenção nestas dicas...
• Assassinatos só acontecem na Região Metropolitana na saída dos bailões. Se você por acaso ouviu alguns tiros no seu bairro; soube do brutal assassinato de um jovem de menos de 25 anos, afirme com todas as letras que a desgraça aconteceu na divisa de Colombo e registre a ocorrência na delegacia daquela cidade. Estas barbaridades só acontecem no meio de gente diferenciada. Curitiba não tem violência.
• Se a amiga da tua mãe disse ter demorado mais do que o previsto para pegar o Ligeirinho e que por pouco não morreu pisoteada e sufocada dentro do ônibus, calma... Argumente sobre a real necessidade das pessoas terem que sair de casa. Afinal de contas, se menos pessoas usarem o transporte coletivo, menor o problema de super lotação. Fácil, não é?
• Os casos de violência urbana, como assaltos, seqüestros relâmpagos estão diretamente ligados à falta de uma postura mais rígida de polícia. É sabido que as unidades prisionais estão lotadas. Então restam algumas alternativas: mandar os bandidos embora pro Paraguai, cantar com eles Ai Se Eu Te Pego ou eliminá-los de vez.
• Compartilhe diariamente sua indignação com a política nacional. Retome todos os dias os temas de corrupção no Governo Federal e da falta que faz um governante de pulso firme neste país. Se um inconveniente qualquer provocar uma conversa negativa da política local, seja altivo. Fale da crise européia e das eleições dos EUA. Você passará a imagem de uma pessoa antenada, livre das picuinhas provincianas.
• Sempre que tiver oportunidade, retome a pauta do boom populacional ocorrido em Curitiba a partir da década de 70. Uns dizem que é 80, não importa. Mas cuidado para não desumanizar o papo. Diga que a vinda de pessoas do interior prá Curitiba tem um lado bom. Um deles é a facilidade em achar empregada doméstica mais barata, mão-de-obra cada vez mais escassa na cidade.
• Perca a fé, reclame na igreja, questione São Pedro das chuvas devastadoras, essas que causam prejuízo e dificultam a vida do cidadão. A respeito da cratera no asfalto existente na esquina da tua casa desde o verão passado, diga que o buraco só está ali porque Deus é sacana, manda chuva.
• Curitiba nunca teve falta de médico, nem filas, nem demora do atendimento. Casos isolados apontam para uma invasão populacional incontrolada oriunda da Região Metropolitana. Esta é a razão dos congestionamentos constatados nas unidades de atendimento público de saúde. Construção de muros próximos aos limites geográficos da capital e RM pode ser uma boa saída.
• Refute a idéia de que falta creche em Curitiba. É notório que a capital paranaense, assim como outras centenas de cidades, teve sua população quadruplicada desde a copa de 70. Uma boa discussão nestes casos, é rever as políticas de adoção internacional. Menos crianças, mais vagas nas creches.

O Brado Retumbante não vem por acaso

É… A Globo não dá ponto sem nó. Lembram daquele quadro do Zorra Total em que um operário via um avião ao longe e exclamava: “Olha o Lula aí gente!!!? Era peça orquestrada para desmoralizá-lo a conta gotas. O tiro saiu pela culatra.

Num desses confrontos de campanha, o Cerra queria se livrar da pecha de privativista e o Lula marcou um baita gol. Disse que o tucano era sim privativista, tanto que até o avião da Presidência da República ele queria vender.

O quadro sumiu do Zorra como por encanto.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

A Presidência no feminino

Estamos completando um ano com uma mulher na Presidência da República, a primeira em nossa história. A data pede reflexão. Três importantes países da América Latina elegeram nos últimos anos mulheres para governá-los: na ordem cronológica, Michelle Bachelet, no Chile, Cristina Kirschner, na Argentina, e Dilma Rousseff. Todas tiveram ótima avaliação. Bachelet, que não fez seu sucessor, saiu do governo altamente popular. Cristina foi reeleita com ampla votação. As pesquisas de opinião são bem favoráveis a Dilma. Mas mal temos mulheres nos demais escalões do poder. São poucas as governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e vereadoras. Sentimos dificuldade até com a palavra para designar quem está na chefia de Estado. Embora Dilma Rousseff se diga "presidenta", quase toda a imprensa a chama de "presidente". O dicionário valida ambas as formas, mas já li no Facebook, depois que usei o "presidenta", que isso provaria meu suposto petismo... Uma dedução, obviamente, mal feita.

Porém, tudo isso é sintoma de uma grande dificuldade, não apenas dos brasileiros mas dos homens em geral - e aqui uso "homem" no sentido de varão e no de membro do gênero humano -, para assimilar a novidade que é ter mulheres no poder. Só no século XX elas adquiriram o direito de voto. No Brasil, votaram pela primeira vez em 1933. Antes disso, algumas mulheres exerceram o poder como rainhas, por direito próprio - isto é, não como meras esposas de homens que fossem reis. Mesmo isso não foi fácil.

Ironicamente, a maior estadista inglesa, Elizabeth I, que reinou de 1558 a 1603, só nasceu devido à ansiedade do pai, Henrique VIII, por ter um filho varão. Como o primeiro casamento do rei lhe deu apenas uma filha, ele receava que uma sucessão feminina fosse contestada. Daí, a famosa série de divórcios de Henrique e sua ruptura com a Igreja Católica - para, afinal, ter como definitiva sucessora logo uma mulher... Mas, embora Elizabeth tivesse enorme poder em suas mãos, seus auxiliares a pressionavam para se casar. Ela deveria ceder o poder a um homem. No fim das contas, ela só governou porque decidiu conservar-se solteira. Contudo, a estabilidade de seu longo governo teve um preço: com ela, terminou sua dinastia. O trono inglês passou aos reis da Escócia.

A despeito de tudo, avançamos muito. Lembro que, em 1989, a antropóloga Mariza Corrêa foi a primeira diretora de uma faculdade na Unicamp. Já a USP demorou mais - o que é espantoso, levando-se em conta que tem unidades, como a enfermagem e a educação, predominantemente femininas - mas já teve uma reitora. A primeira senadora do Brasil foi Eunice Michilles, em 1979; ela era, porém, apenas uma suplente, que assumiu o cargo com a morte do titular. Só em 1990 tivemos mulheres eleitas para o Senado. Hoje, isso já não é exceção, mas está longe de ser a regra. Uns anos atrás, ouvi uma vereadora paranaense contar que - toda vez que falava na Câmara - os colegas homens riam dela. Isso tornou sua vida insuportável até que, participando em Curitiba de um encontro de mulheres detentoras de mandatos, percebeu que podia ter o apoio, mesmo a distância, de outras mulheres, e enfrentou a situação.

Ainda é difícil, porém, aceitar uma mulher chefiando o governo. Não falo do mundo islâmico; curiosamente, países muçulmanos - embora não árabes - já tiveram mulheres no poder, como Benazir Bhutto, no Paquistão (mas será que o fato de ser mulher contribuiu para ela ser assassinada?). Penso em nosso próprio país. Porque o preconceito é tenaz
Mesmo quando não é agressivo contra as mulheres, um resíduo importante dele aparece na quase-impossibilidade de conciliar o que se espera da mulher e o que se espera do governante.

De quem governa, esperamos que mande. Da mulher, esperamos que seja doce. É possível mandar docemente? Milhares de anos nos acostumaram a uma experiência em que o ato de mandar é duro, agressivo, viril. Também nos acostumaram à ideia de que a mulher é boa, compreensiva, receptiva. Daí que, quando uma mulher manda, entremos em curto-circuito. Talvez tenha sido isso o que levou à queda de Nelson Jobim, político hábil e capaz: quem sabe não aceitasse que uma mulher mandasse nele, que por sua vez dava ordens à cúpula das Forças Armadas. A sucessão de declarações aparentemente desastradas de Jobim, praticamente forçando Dilma a exonerá-lo, permite considerar essa explicação tão boa quanto qualquer outra.

A situação tampouco é fácil para as mulheres. Hillary Clinton, quando o marido concorreu à Presidência dos Estados Unidos, teve que reduzir seu perfil de profissional competente e se apresentar como dona de casa que fazia "cookies". Depois voltou a seu perfil mais verdadeiro, mas parece que nunca presidirá seu país.
Creio, porém, que é justamente esse problema que traz, no seu bojo, a solução. As mulheres assumirem o poder não significa elas se tornarem másculas - imagem que se insinua, às vezes, sobre a própria Dilma. Significa um novo estilo de poder. Não é fortuito que estes anos se fale tanto em "soft power". Aproveitando a palavra, mas dando-lhe novo sentido, o poder precisa se feminizar. Ele não pode, numa democracia, estar na dureza, na repressão, na ordem. Aliás, depois do hiper-masculino Collor, nossos três últimos presidentes foram mais de persuadir que de ordenar. Sua retórica era mais importante que suas ordens. Essa é uma das tarefas que teremos de cumprir, nós e o mundo, nos próximos anos ou décadas: compreender, definir, construir um poder com mais traços femininos. Isso pode demorar bem mais que o mandato de Dilma Rousseff, mas vai acontecer.

Escrito por Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.