quinta-feira, maio 29, 2014

Vida de humano

Na caminhada costumeira que faço com o Lilico nas manhãs, acompanhei hoje, sem querer, a abordagem dos agentes da FAS - Fundação de Ação Social, a três moradores de rua. Eles estavam sentados numa esquina próxima a minha casa.

Um se dizia cantor e às vezes cantarolava palavras desconexas. Outro alegou que havia brigado na família e que por isso estava fora de casa. O terceiro disse que estava ali porque era solidário aos demais. Disse ter casa e que não havia necessidade da prefeitura se preocupar com eles.

Todos chapadésimos. Entremeavam frases reais a delírios.

Não houve argumento que os convencessem a sair dali. Um deles, o mais novo, era velho conhecido da equipe da prefeitura. Ele dizia que as assistentes sociais do abrigo o trataram bem nas vezes que esteve lá, mas que o problema é a falta de cachaça. Disse que tinha medo de ficar preso. “Mas como o senhor ficou preso, se o senhor saiu de lá e agora está de novo na rua”? Perguntou a agente. “Não adianta dona, lá eu tremo e fico nervoso por causa da droga”, disse o rapaz de 31 anos.

Outro, com a cabeça enfaixada e marca de pontos recém retirados do rosto inchado e ainda ferido, foi o mais resistente. Disse que tinha onde morar e que estava rondando porque brigou com a irmã. Segundo ele, a irmã o quebrou de pau. Sob qualquer intervenção, levantava a voz em tom agressivo.

O cantor estava relax. Enrolado num cobertor sujo, imundo, olhava para o céu e cantarolava baixinho. Enquanto os agentes faziam anotações, olhou-me e perguntou se os três incomodavam a vizinhança. Perguntou também se, como moradora do bairro, eu havia sentido falta de alguma coisa. Falei que não.

Os agentes pediram que eu assinasse como testemunha, foram embora e eu também.

Ah! O mais moço lembrou que vai acompanhar os jogos da Copa no radio de pilha. Ele carrega o radinho no bolso.

Vida de Cão, não. Vida de Cão é bem melhor.

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