terça-feira, dezembro 24, 2013

E a vida, o que é, o que é meu irmão

Conheci Dona Mariazinha e a filha Marina nos anos 80. Marina era filha única e ambas moravam num apartamento alugado no centro de Curitiba. Dos parentes, restava apenas uma prima de idade avançada que raramente as visitava.

Marina trabalhava no Banestado. Ao sair para trabalhar, Dona Mariazinha ficava acenando na janela do apartamento no 8º andar, até a filha virar a quadra para pegar o ônibus. Era tanto apego, que a mãe ligava umas dez vezes por dia ao banco para saber da filha. E vice versa. O tratamento entre elas era de “meu amorzinho”. E ai de quem falasse mal da Marina. Dona Mariazinha ficava uma fera.

As duas eram muito faceiras e boas anfitriãs. Se orgulhavam de boa parte da vida haverem freqüentado a alta roda da sociedade paulistana.

Sempre bem vestidas, de cabelos pintados e maquiagem impecável, serviam um café delicioso aos amigos banestadenses que as visitavam. Recebê-los era um ato prazeroso .

Marina se aposentou. O afastamento da rotina bancária fez com que gradativamente os amigos deixassem de freqüentar a casa das duas. De vez em quando alguém dava alguma notícia, o que ficou cada vez mais raro com o passar do tempo.

Uns quinze anos depois

Ao folhear a Gazeta do Povo, chamou-me a atenção uma reportagem sobre as velhinhas internadas no Asilo São Vicente. Olhei a foto ilustrativa da matéria - duas mulheres de cabelos totalmente brancos numa cadeira de rodas – sem jamais imaginar que pudesse se tratar de gente conhecida. Mas, ao avançar a leitura, liguei os fatos. Sem dúvida, mãe e filha estavam lá.

A Assistente Social do Fundo de Pensão relatou a saga. Dona Mariazinha, com seus mais de 80 anos, dia-a-dia tornava-se cada vez mais fraca. Sem contar o Mal de Alzheimer cada vez mais avançado.

Sem estrutura física e emocional para cuidar da mãe, a quem tinha como esteio, Marina sofreu um derrame e ficou dois meses na UTI. Ela conseguiu sobreviver, mas ficou totalmente desmemoriada. O fato interessante dessa história, é que Marina não reconhece a mãe – a chama de Conceição – mas no delírio a quer sempre por perto, a ponto de ficar desesperada se perde a cadeira da mãe de vista.

Amanhã – véspera de Natal - irei visitá-las. Levarei um pequeno presente e direi que sou uma amiga dos tempos do Banestado, referência sem nenhuma importância no contexto.

A conversa será meio desconexa, mas o abraço, o olhar e o toque terão sintonia.
Feliz Natal às minhas amigas.

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