quinta-feira, dezembro 26, 2013

A visita ao Asilo São Vicente na véspera do Natal

Cheguei, por coincidência, na hora da missa celebrada em comemoração ao Natal. Aproveitei para rezar e pensar um pouco na vida naquele ambiente sacro. Cadeirantes de olhos perdidos estendiam as mãos trêmulas aos familiares durante a oração do Pai Nosso. Muitas velhinhas sem ninguém por si. 

Procurei Dona Mariazinha e Marina na capela e não as encontrei. Soube mais tarde que elas não gostam muito de ir à missa.

Como sempre, nos encontramos na sala de visita do asilo. As duas em cadeira de rodas, uma ao lado da outra. A mãe quase não se mexe, não fala e parece não ouvir o que a gente fala. Entreguei-lhe um pequeno presente e, durante todo o tempo da nossa conversa, ela tentava desamarrar o laço. Era como se, até que enfim, alguém dera-lhe uma tarefa para fazer.

Marina surpreendeu-me. Da última vez que a vi, percebi uma sensível melhora nos movimentos, na fala e na articulação das ideias. Mas continua a chamar todos de Conceição ou de mãe.

Em rápidos lampejos de memória, falou do jurídico – local de trabalho no banco - e reclamou da mão esquerda imobilizada. O derrame afetou a motricidade.

Embora se esforce para falar, consegue articular poucas palavras, muitas esparsas. Mesmo assim, Marina reclama da solidão, às vezes chora e pergunta até quando deve ficar no asilo. O calor também a incomodava, mas ao mesmo tempo dizia que seu pé estava frio.

Na saída, perguntei na portaria se as duas recebem visitas. “Raramente”, respondeu a atendente.

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