terça-feira, fevereiro 12, 2013

A arte da sétima arte


Quem diria! Campo Mourão tinha três cinemas na década de 60: os Cines Mourão, Império e Plaza. O Mourão fechou cedo, o Império resistiu mais um pouco e o Plaza foi mais longe.
Dá-lhe Mazzaroppi.  Dá-lhe far west.  Enquanto o mocinho sofria, a plateia permanecia no maior silêncio. Em compensação, nos momentos de glória, muito bate pé-no-chão,  assobio e gritaria. Os heróis saiam da tela e  invadiam o coração da moçada da  poltrona. Sim, era uma verdadeira torcida. Alegria plena.
Na Semana Santa gente dos distritos vizinhos faziam filas na porta do cinema. Qualquer sacrifício validava o esforço prá ver a Paixão de Cristo, em preto&branco e cheio de chuviscos. A qualidade da fita menos importava. Muito choro, tristeza de verdade, nas cenas da crucificação do Homem.     
Brigitte Bardot, Annie Girardot, Alain Delon  e outros franceses. Oh! Quanta devassidão.  Os filmes  desses feras passavam de terça a sexta. E  por que? Porque continham cenas impróprias e por isso eram dirigidos a um público menor. Jovens mourãoenses  mentiam a idade no esforço de assistir uma cena de beijo mais ousada ou mostra de sutil nudez.
Antes da  sessão  começar, os mocinhos desfilavam pelos corredores – sempre de lá e para cá – a olhar as mocinhas comportadas sentadas nas poltronas. Ciente de que seriam paqueradas, elas chegavam mais cedo e escolhiam um bom lugar, geralmente próximas do corredor, para serem facilmente vistas. O risco de ficar mal falada exigia muito disfarce e discrição.  No apagar das luzes, o rapaz sentava ao lado da moça e...
Olhar maroto,  mão na  mão, depois mão no ombro e até o final da sessão, um  beijo roubado. Assim começavam muitos namoros. Depois evoluia para namoro firme.  As salas do cinema testemunharam muitas dessas paixões.
Saudades. Bons tempos. Boas lembranças.

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