Quem diria! Campo Mourão tinha três cinemas na década de 60:
os Cines Mourão, Império e Plaza. O Mourão fechou cedo, o Império resistiu mais
um pouco e o Plaza foi mais longe.
Dá-lhe Mazzaroppi. Dá-lhe
far west. Enquanto o mocinho sofria, a plateia permanecia
no maior silêncio. Em compensação, nos momentos de glória, muito bate
pé-no-chão, assobio e gritaria. Os heróis
saiam da tela e invadiam o coração da
moçada da poltrona. Sim, era uma
verdadeira torcida. Alegria plena.
Na Semana Santa gente dos distritos vizinhos faziam filas na
porta do cinema. Qualquer sacrifício validava o esforço prá ver a Paixão de
Cristo, em preto&branco e cheio de chuviscos. A qualidade da fita menos importava.
Muito choro, tristeza de verdade, nas cenas da crucificação do Homem.
Brigitte Bardot, Annie Girardot, Alain Delon e outros franceses. Oh! Quanta devassidão. Os filmes desses feras passavam de terça a sexta. E por que? Porque continham cenas impróprias e
por isso eram dirigidos a um público menor. Jovens mourãoenses mentiam a idade no esforço de assistir uma
cena de beijo mais ousada ou mostra de sutil nudez.
Antes da sessão começar, os mocinhos desfilavam pelos
corredores – sempre de lá e para cá – a olhar as mocinhas comportadas sentadas
nas poltronas. Ciente de que seriam paqueradas, elas chegavam mais cedo e
escolhiam um bom lugar, geralmente próximas do corredor, para serem facilmente
vistas. O risco de ficar mal falada exigia muito disfarce e discrição. No apagar das luzes, o rapaz sentava ao lado
da moça e...
Olhar maroto, mão na mão, depois mão no ombro e até o final da
sessão, um beijo roubado. Assim começavam
muitos namoros. Depois evoluia para namoro firme. As salas do cinema testemunharam muitas dessas
paixões.
Saudades. Bons tempos. Boas lembranças.
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