Essa saraivada de notícias vindas do Vaticano, faz lembrar algumas passagens traumáticas da minha
infância/adolescência.São lembranças que a gente faz o
possível para esquecer, mas ficam martelando na cabeça. Parece praga.
A educação religiosa se sobrepunha a do lar e da
escola. As normas rígidas da igreja obrigavam as crianças a se confessarem pelo
menos uma vez por semana. Todos os pecados deveriam ser contados ao padre, caso
contrário um filete de sangue escorreria da boca no momento da comunhão, ou
seja, na hora de engolir a hóstia. Nenhuma criança deveria se sujeitar a
tamanho vexame. Os presentes iriam saber
que aquela criança era uma pecadora, impura para receber a benção na missa dominical,
indigna para pertencer ao reino dos céus.
Inferno de labaredas e capeta chifrudo com tridente nas mãos. Este
seria o destino pós morte dos pecadores. O catecismo, um pequeno livro usado nas aulas
de religião, explicavam os detalhes das consequências funestas de quem ousasse
descumprir as normas da igreja. Na capa,
uma ilustração assustadora do inferno e do seu chefe maior: o Diabo. Tenho medo até hoje.
E quais os pecados que uma criança de 10, 12 anos deveria
contar ao padre? Nas aulas de catecismo, geralmente ministradas pelas freiras,
se ensinava que “não lavar a louça, responder o pai e a mãe, dormir tarde,
brigar na escola” seriam pecados . Mas, existia uma transgressão bem maior. Brincar
com o corpo. Na hierarquia católica, um pecado capital.
O brincar com corpo seria o pai dos pecados. Nas aulas, este
assunto - tabu por natureza – assustava.
Afinal, o que seria esta brincadeira pecaminosa?
A resposta vinha da
penumbra do confessionário. Se a criança
evitasse em contar ao padre, por vergonha ou simplesmente por não haver “brincado”,
aos cochichos o padre perguntava: “Brincou com o corpo, minha filha? E se fosse dito: não, ele insistia. “Procure
lembrar, filha. Você por acaso não passou a mãozinha no meio das pernas. Não
passou as mãos nos peitinhos? Isso é pecado, filha.
Enquanto isso, a
criança ajoelhada assistia um homem se retorcendo em movimentos de vai-e-vem vertical com a mãos
atrás daquela cortina sebosa, sem entender nada.
Santo padre, santa hóstia. Santas histórias.
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