terça-feira, março 19, 2013

Homofobia e cesta básica. Coisas do PT

A jornalista Danuza Leão  faz crítica feroz ao PT  numa matéria intitulada “Os preconceitos” em sua coluna on line do Estadão.

Em seus argumentos, Danuza questiona o fato de o PT defender os homossexuais, mas não acolher gays ou lésbicas assumidos no governo, nem tampouco na estrutura do partido. Segundo a jornalista, a questão se torna mais intrigante com o discurso da ministra da cultura Marta Suplicy, conhecida pela defesa do público  arco-iris e frequentadora assídua das paradas da diversidade.

É elogiável a preocupação da colunista a respeito da inclusão das chamadas minorias na política (nem tão minoria assim), mas quem conhece o PT, sabe que a questão não é bem assim como ela descreve.

Vale lembrar que aqui em Curitiba, travestis, lésbicas e gays já foram candidatos. Inclusive em suas plataformas eleitorais, ficou evidente a defesa de políticas inclusivas para esse público. Nada, absolutamente nada a esconder ou dissimular. Transitam livremente nos fóruns internos do partido e são respeitados no direito de voz e voto.

Caráter e inteligência independe de orientação sexual. Nos governos, privilegia-se o mérito.

O texto de Danuza encerra com mais uma provocação. “d. Dilma escolheu para desovar mais uma de suas bondades: a desoneração da cesta básica. Cesta básica é coisa de cozinha, e quem fala em cozinha pensa em mulher; ato mais do que falho da presidente.”

A colunista tem razão. A presidenta Dilma pensa em mulher. Pensa na mulher mãe, mulher arrimo, mulher dona do seu destino, mulher trabalhadora, mulher da batalha.

É na cozinha que ela sacia a fome da filharada. Enquanto mexe as panelas, pensa no amanhã. Vai  precisar de mais comida na prateleira. E, se comprar por um preço mais barato, melhor.

Ato mais que bonito da Presidenta.

As três, por elas mesmas

Marilda Ribeiro, Rose Gomes e Antônia Passos de Araujo, a Toninha.
Adivinhar o que estas mulheres tanto conversam é tarefa complicada, mas dá para arriscar um palpite. Piada não é, senão estariam rindo. Conversa longa e complicada também não, caso contrário não aguentariam muito tempo sentadas numa escada dura e fria.

Então? Pelo semblante delas rolava um papo mais ou menos assim:

A Marilda, a mais jovem das três, comentava que se tivesse uma filha hoje, ela iria se chamar Rosa Luxemburgo. A menina seria uma revolucionária de esquerda. Uma crítica apaixonada e convincente de sistemas opressores e do capitalismo. Sem fazer concessões e com voz poderosa ela defenderia suas convicções e agiria sobre as pessoas como um trovão, sem, entretanto, recorrer a outros meios que não fosse seu talento. Ela seria capaz de conquistar todos que se aproximassem dela sem preconceitos de raça, cor e classe social.

Animada com a ideia de também poder parir, Rose disse que sua filha se chamaria Clara Zetkin. A menina seria jornalista e nos seus escritos diria que não se concebe um movimento de massas pela paz sem a participação das mulheres e que a paz estará assegurada somente quando uma esmagadora maioria das mulheres de todo o mundo aderirem à luta pela causa da paz, pela causa da liberdade e da felicidade da humanidade.

Clara trataria a questão da igualdade de direitos das mulheres, certa de que a mulher seria escrava do homem e ficaria nessa condição até que alcançasse sua independência econômica.

Toninha pensou duas vezes, coçou a cabeça, mordeu os lábios e ensaiou levantar-se. Mas as duas a colocaram contra a parede. “E você não vai dizer nada?” Perguntou Marilda. “Fugindo da raia Toninha? ” Cutucou Rose. “Se pudesse, você também não gostaria de ter uma filha hoje?”, complementou.

“Minha filha se chamaria Dilma, Dilma Rousseff. Ela teria as características das filhas de vocês, com o agravante de que seria ainda a primeira mulher e a melhor presidenta do Brasil.” Toninha matou a pau.

sábado, março 02, 2013

O diabo veste padre


Essa saraivada de notícias vindas do Vaticano, faz lembrar algumas passagens traumáticas da minha infância/adolescência.São lembranças que a gente faz o possível para esquecer, mas ficam martelando na cabeça. Parece praga.
A educação religiosa se sobrepunha a do lar e da escola. As normas rígidas da igreja obrigavam as crianças a se confessarem pelo menos uma vez por semana. Todos os pecados deveriam ser contados ao padre, caso contrário um filete de sangue escorreria da boca no momento da comunhão, ou seja, na hora de engolir a hóstia. Nenhuma criança deveria se sujeitar a tamanho vexame. Os presentes  iriam saber que aquela criança era uma pecadora,  impura para receber a benção na missa dominical, indigna para pertencer ao reino dos céus.
Inferno de labaredas  e capeta chifrudo com tridente nas mãos. Este seria o destino pós morte dos pecadores.  O catecismo, um pequeno livro usado nas aulas de religião, explicavam os detalhes das consequências funestas de quem ousasse descumprir  as normas da igreja. Na capa, uma ilustração assustadora do inferno e do seu chefe maior: o Diabo.  Tenho medo até hoje.
E quais os pecados que uma criança de 10, 12 anos deveria contar ao padre? Nas aulas de catecismo, geralmente ministradas pelas freiras, se ensinava que “não lavar a louça, responder o pai e a mãe, dormir tarde, brigar na escola” seriam  pecados .  Mas, existia uma transgressão bem maior. Brincar com o corpo. Na hierarquia católica, um pecado capital.
O brincar com corpo seria o pai dos pecados. Nas aulas, este assunto  - tabu por natureza – assustava. Afinal, o que seria esta brincadeira pecaminosa?
 A resposta vinha da penumbra do confessionário.  Se a criança evitasse  em contar ao padre,  por vergonha ou simplesmente por não haver “brincado”, aos cochichos o padre perguntava: “Brincou com o corpo, minha filha?  E se fosse dito: não, ele insistia. “Procure lembrar, filha. Você por acaso não passou a mãozinha no meio das pernas. Não passou as mãos nos peitinhos? Isso é pecado, filha. 
Enquanto isso,  a criança ajoelhada assistia um homem se retorcendo  em movimentos de vai-e-vem vertical com a mãos atrás daquela  cortina sebosa,  sem entender nada.
Santo padre, santa hóstia. Santas histórias.     

domingo, fevereiro 24, 2013

Passeio Público. Faz tempo que você foi lá?


Às vezes almoço aos sábados no ex Pasquale e aproveito para andar um pouco e observar o vai-e-vem de dos frequentadores do histórico Passeio Público de Curitiba. Mulheres e homens maltratados andam para lá e para cá em passos lentos, quietos. Combinam os encontros amorosos numa discrição não planejada, sentados nos bancos sob a sombra das árvores frondosas. É um cenário meio nelsonrrodriguiano  às  avessas.
No parquinho, a criançada se diverte e curte o velho Passeio da mesma forma que gente adulta pratica exercícios físicos na academia ao ar livre. Muitos fazem caminhada no entorno.
Essas pessoas são a cara do Passeio e são interessantes. Tudo na mais perfeita harmonia.
Decadente mesmo está o local destinado aos poucos animais (répteis) ainda enjaulados. O  olhinho das crianças brilha ao ver as cobras se mexendo atrás do vidro, mas a impressão que dá é a que os bichos estão desnutridos, sem vida. Alguns compartimentos vazios ajudam a deixar o ambiente mais empobrecido.
Querem mexer com o Passeio? Modernizá-lo? Que tal deixar as pessoas em paz e cuidar dos bichos. 

sábado, fevereiro 16, 2013

Marina Silva: partido novo, velhas práticas


Nasce um partido falacioso  e confuso.  Faz-se esta referência  à recente agremiação partidária chamada de Rede Sustentabilidade encabeçada por Marina Silva, candidata que amealhou 20 milhões de votos na última eleição presidencial, na época filiada ao PV. O começo da militância política foi no PT.
A relutância em acreditar na boa fé da Rede é eivada de questionamentos.
Como acreditar num partido que diz nascer com o objetivo de estabelecer novas formas de relações na política, mas que admite alianças da forma tradicional vigente no sistema?  Como levar a sério um partido que  diz que o foco não é só eleição, mas que admite de cara  lançar candidatura em 2014?
Não se coloca em dúvida a intenção do partido da Marina em debater um mundo melhor  para as pessoas.  Mas, se legalmente criado, o objetivo é participar de disputas eleitorais, sim. Se contrário, que se fortaleçam os  movimentos  organizados  ou fóruns permanentes de luta por alguma causa,  Quem cria partido é porque busca o poder ou sonha com ele. O resto é balela.
Cai também por terra o discurso da novidade, Ora, se já existe sinal de candidatura à vista, se já há predisposição de diálogo para formação de alianças, então tudo é igual, tal como está. O fato de o partido  rejeitar rótulo de esquerda ou de direita é cópia do discurso do  PSD do Kassab.  Quer postura mais tradicional?
Vamos à desmistificação.  Até prova ao contrário, no ambiente político funciona assim: o sujeito é ficha suja  mas pode amealhar votos. E nenhum candidato seria louco a ponto de desprezá-lo.  E não se fala mais nisso.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

A arte da sétima arte


Quem diria! Campo Mourão tinha três cinemas na década de 60: os Cines Mourão, Império e Plaza. O Mourão fechou cedo, o Império resistiu mais um pouco e o Plaza foi mais longe.
Dá-lhe Mazzaroppi.  Dá-lhe far west.  Enquanto o mocinho sofria, a plateia permanecia no maior silêncio. Em compensação, nos momentos de glória, muito bate pé-no-chão,  assobio e gritaria. Os heróis saiam da tela e  invadiam o coração da moçada da  poltrona. Sim, era uma verdadeira torcida. Alegria plena.
Na Semana Santa gente dos distritos vizinhos faziam filas na porta do cinema. Qualquer sacrifício validava o esforço prá ver a Paixão de Cristo, em preto&branco e cheio de chuviscos. A qualidade da fita menos importava. Muito choro, tristeza de verdade, nas cenas da crucificação do Homem.     
Brigitte Bardot, Annie Girardot, Alain Delon  e outros franceses. Oh! Quanta devassidão.  Os filmes  desses feras passavam de terça a sexta. E  por que? Porque continham cenas impróprias e por isso eram dirigidos a um público menor. Jovens mourãoenses  mentiam a idade no esforço de assistir uma cena de beijo mais ousada ou mostra de sutil nudez.
Antes da  sessão  começar, os mocinhos desfilavam pelos corredores – sempre de lá e para cá – a olhar as mocinhas comportadas sentadas nas poltronas. Ciente de que seriam paqueradas, elas chegavam mais cedo e escolhiam um bom lugar, geralmente próximas do corredor, para serem facilmente vistas. O risco de ficar mal falada exigia muito disfarce e discrição.  No apagar das luzes, o rapaz sentava ao lado da moça e...
Olhar maroto,  mão na  mão, depois mão no ombro e até o final da sessão, um  beijo roubado. Assim começavam muitos namoros. Depois evoluia para namoro firme.  As salas do cinema testemunharam muitas dessas paixões.
Saudades. Bons tempos. Boas lembranças.