domingo, janeiro 20, 2013

A Curitiba vivida, curtida e não esquecida


Um domingo de janeiro curitibano,  meio frio por excelência, sugere algumas reminiscências. A viagem acontece lá pela segunda metade da década de 70, começo dos anos 80.  Curitiba suja, louca e desvairada. Frio, muito frio sempre. A poesia aquecia o coração os boêmios irreverentes. A fumaça dos bares denunciava a quantidade de Carlton, Minister devorados naquelas madrugadas compridas.   
A via sacra começava na Velha Adega, local pequeno de dois ambientes, na Cruz Machado.  A garçonete histórica – pena não lembrar o nome – sempre com um indefectível  avental , magra e de rosto pálido, séria. Atendia os loucos com a cara amarrada e todos a respeitavam,  gostavam dela.  Pub lotado. Vez ou outra o violão saía do canto da parede e um dedilhado tentava  acompanhar o som dezenas de vozes inspiradas em  Zé Ramalho ou  Elis.
Perto da meia-noite, próxima parada: o Si Bemol na Alameda Cabral. A escada de madeira estreita de acesso ao piso superior sofria para dar conta do movimento. Ver e ouvir o Lápis cantar tinha seus encantos e compensava qualquer sacrifício, inclusive o de esperar mais de hora para conseguir um cuba-libre.  Um  tal de Paulo Leminski também dava o ar da graça por lá. Um guardanapo  amarrotado e uma caneta eram suficientes para aquecer a mão fria do poeta. E os versos se misturavam aos copos e bitucas de cigarros naquele ambiente de luz fraca. Lembro dos irmãos Péricles e Grego, assíduos frequentadores das noites geladas de Curitiba.
La Cueva, na Visconde de Nácar. Esse boteco também fazia parte do circuito dos loucos. O ambiente acolhedor e a boa localização  incentivava uma passadela no final da noite. O  som gostoso do Bob Dylan numa altura mediana deixava a cabeça insana e ao mesmo tempo mais leve do que se previa. La Cueva teve vida curta. Depois de fechar as portas, o espaço abrigou uma boate de strip tease.  
Quase 5 da matina. Garçons cansados e cadeiras em cima das mesas.  Vontade de comer antes que a dia amanheça. Bora pro Bar e Restaurante do Luiz na José Loureiro, especialista em servir sopa na madrugada aos desvairados. Prostitutas, taxistas, um ou outro travesti, convergidos num mesmo ambiente e unidos por apenas um objetivo: saciar a fome. É a fome humana, sem preconceito ou distinção de classe.
   

4 comentários:

  1. Si bemol Alameda Cabral, onde conheci e tocamos junto nosso saudoso Ivo do Blindagem, ele com os rocks e eu com sambinhas acompanhados pela Tininha com seu tabaque e vassourinha. Onde andará?

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  2. Os donos da Velha Adega foram os meus pais, dona Mariana e seu Emílio. O nome da garçonete era Dora. Que tempo bom 👍🏻👏🏻🙋🏻‍♀️

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